Fase I - Convênio DNPM-CPRM: Treinamento de Técnicos no Exterior

Fase I - Convênio DNPM-CPRM: Treinamento de Técnicos no Exterior

No fim da década de 60, a expansão do crescimento econômico no mundo, envolvendo fortemente o setor mineral, levou o Ministério de Minas e Energia a criar a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM para atender as demandas do setor. Paralelamente, houve a iniciativa de capacitar o pessoal técnico para dar suporte à demanda pelo conhecimento geológico do país e para incrementar o desenvolvimento econômico do Brasil. Com esse objetivo tem início a aproximação da CPRM com os países estrangeiros, fundamentada e suportada no Convênio DNPM-CPRM.

Em 1967, o chefe do 3º Distrito do DNPM, em Minas Gerais, e posteriormente superintendente regional da CPRM no mesmo estado, visando à agilizar o conhecimento do subsolo brasileiro usando prospecção geofísica, manteve entendimentos com o Serviço Geológico Federal Alemão – BGR. Com base no Acordo de Cooperação Técnica Brasil-Alemanha de 1963, foi firmado, no ano de 1969, o Convênio Geofísico Brasil-Alemanha – CGBA.

Posteriormente, tendo em vista o êxito alcançado por esse convênio, o governo brasileiro, juntamente com o governo canadense, implantou em 1974 o Projeto Geofísico Brasil-Canadá – PGBC, em Goiânia (Goiás), desenvolvido com base no Acordo Brasil-Canadá e suportado pela Canadian Internacional Development Agency – CIDA.

Essas iniciativas representam um dos marcos da geofísica no Brasil, capacitando técnicos com conhecimento prático e nível de excelência, capazes de planejar, gerenciar e, sobretudo, executar todas as etapas de levantamento e pesquisa no âmbito da geofísica.

Esses projetos tinham como objetivos:

  • Resultados estratégicos: formação de equipes, a começar pela seleção dos profissionais, treinamento técnico para todos, desde o nível médio até o nível superior, incluindo atividades gerenciais, visando capacitar um grupo para a execução de futuros projetos no Brasil.
  • Resultados físicos: fomentar a descoberta de novos depósitos, principalmente sulfetos, através da execução de trabalhos de geofísica aérea e terrestre, aplicando as melhores tecnologias disponíveis da época. Paralelamente, eram também realizados levantamentos geoquímicos, e posterior integração de dados com a geologia.

Como resultados estratégicos destes projetos pode-se ressaltar um aumento significativo dos trabalhos de geofísica no Brasil com a participação dos técnicos treinados através do Convênio DNPM-CPRM, tornando-se replicadores de conhecimentos na área. Ademais, os dados destes dois (02) projetos foram os únicos dados de aerogeofísica disponíveis para ensinamentos teóricos e práticos de geofísica das universidades das regiões sudeste e centro oeste do Brasil (UNB, UFMG, UNESP, UFRJ, UERJ, USP, UFOP).

Como resultados físicos podem ser citados:

  • A descoberta da mina de urânio de Lagoa Real, Bahia, pelo Centro de Geofísica Aplicada – CGA, em 1977, órgão que sucedeu ao CGBA;
  • a delimitação da província mineral do norte de Minas Gerais (Fe, Au, Mn), atualmente em início de exploração;
  • o reconhecimento na área com Fe e Mn em Caetité, Bahia;
  • a pesquisa de carvão no sul do Brasil; e
  • desenvolvimento de metodologia para a prospecção de pegmatitos, entre outros. Ademais, pelo PGBC, muitas descobertas decorreram dos levantamentos realizados nesses estudos destacando-se os depósitos minerais correlacionados aos greenstones belts de Crixás, Faina e Goiás e os depósitos de minerais metálicos não ferrosos da Serra dos Carajás e da Serra das Andorinhas, localizados no Estado do Pará.

Ainda com base no Convênio DNPM-CPRM, fundamentado no Acordo de Cooperação Brasil-Japão, predominantemente na década de 80, com suporte financeiro da Japan International Cooperation Agency – JICA, vários projetos foram desenvolvidos por técnicos do DNPM, com a participação de empregados da CPRM, com prioridade para o treinamento de profissionais.

Estas ações e seus resultados por projetos serão apresentados, por país, a seguir.

Alemanha

Firmado em 1969 pelos representantes dos dois governos, brasileiro e alemão o Convênio Geofísica Brasil-Alemanha (CGBA) encerrou suas atividades em 1977, conforme cláusula contratual. Seu objeto era o treinamento de geólogos e geofísicos brasileiros, na área de geofísica, na Alemanha, no Serviço Geológico Federal Alemão – BGR e na empresa Prakla-Sismos, bem como a execução de trabalhos de campo no território nacional. Além de técnicos do DNPM e CPRM, dominantemente oriundos da Petrobras, o treinamento também previa a capacitação de pessoal de nível médio e outros profissionais no Brasil para atuar em atividades de campo, como engenheiros, pilotos e operadores de equipamentos. Com base em Belo Horizonte, Minas Gerais, o CGBA foi posteriormente transformado no Centro de Geofísica Aplicada – CGA, financiado pelo Ministério de Minas e Energia até 1978, tornando-se um centro de excelência em geofísica no país. De acordo com cláusulas do convênio, após o encerramento do CGBA todos os equipamentos foram cedidos para o CGA, e o governo brasileiro instalou os equipamentos de geofísica na aeronave Piper Navajo, adquirida da EMBRAER, mantendo-se a assessoria dos alemães.

Na época a Petrobras realizava alguns levantamentos de magnetometria para subsidiar os trabalhos de sísmica. Durante a atuação do CGBA os levantamentos aeromagnéticos e aerogamaespectrométricos eram executados por empresa alemã com aeronave Aero Commander, preparado com equipamentos de gamaespectrometia e magnetometria. Entretanto, foi através do CGBA que se realizou no Brasil pela primeira vez um levantamento regional empregando a aerogeofísica numa área de extensão considerável, cobrindo 570 mil km2, entre Minas Gerais e Espírito Santo, e, a seguir, complementados com levantamentos terrestres. Este estudo resultou na publicação de 153 mapas na escala 1:100.000 e 12 em 1:250.000. Nas atividades do CGA foi também utilizado helicóptero, equipado na Alemanha. Com esta aeronave foi feita a descoberta do depósito de urânio de Lagoa Real, Bahia, durante as atividades do Projeto Urandi, no ano de 1977.

Canadá

Com o sucesso dos empreendimentos do setor mineral canadense, em 1974 o governo brasileiro e o Canadian Internacional Development Agency – CIDA assinaram o Acordo Projeto Geofísico Brasil-Canadá - PGBC, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, que se estendeu até 1979. O Projeto cobriu uma área de 375.000 km2, na região central do Brasil, utilizando técnicas aerogeofísicas de mangnetometria e gamaespectrometria, assim distribuídos: Goiás (245.700 km2), Pará (108.400 km2), Mato Grosso (19.600 km2), e Maranhão (1.300 km2). A execução do projeto ficou a cargo do DNPM, e a CPRM como empresa conveniada ficou com a responsabilidade das atividades operacionais (contratação de pessoal, manutenção de equipamentos e veículos). O Geological Survey of Canada – GSC foi o responsável pela assessoria técnica de todas as atividades do projeto, bem como pela seleção das empresas canadenses, responsáveis pelo treinamento das equipes técnicas, tais como: Northway Survey Coprporation, Scintrex Limited, Geoterex Lmited e Barringer Limited. O representante da CIDA coordenava o treinamento.

O projeto desenvolvido por equipes de brasileiros e canadenses, no levantamento regional empregaram duas aeronaves Douglas DC-3 da empresa Northway Survey Corporation, equipadas com magnetometria e gamaespectrometria, enquanto que nos levantamentos de geofísica terrestre foram usados os métodos: magnetometria de campo total e componente vertical, polarização induzida, equipamentos eletromagnéticos, medidores de susceptibilidade magnética e resistividade das rochas.

Diante dos resultados exitosos obtidos pelo Convênio Geofísico Brasil-Alemanha – CGBA, e pelo Centro de Geofísica Aplicada – CGA, o Projeto Geofísico Brasil-Canadá (PGBC) selecionou extensa área (375.000 km2) na região central do Brasil, caracterizada pela presença de espesso manto laterítico e dificuldades de acesso, para ser investigada por método indireto de aergeofísica, a exemplo das técnicas aplicadas pelo CGBA. Paralelamente também foram efetuadas amostragem geoquímica regional e de detalhe em áreas selecionadas, com amostragem de sedimentos de corrente e solo.

O projeto tinha como objetivos:

  • Prospecção de minerais metálicos (Ni, Cu, Co, Pt, Sn) no centro de Goiás;
  • o entendimento da potencialidade da Serra de Carajás para outras substâncias, além das mineralizações de Fe; e
  • investigar a espessura de sedimentos na depressão da bacia do Bananal, viando a cumulação de óleo e gás.

Japão

Ainda com base no Convênio DNPM-CPRM, e fundamentado no Acordo de Cooperação Brasil-Japão, predominantemente durante toda a década de 80, vários projetos foram desenvolvidos por técnicos do DNPM com a participação de empregados da CPRM, com prioridade para o treinamento profissional. A execução dos projetos coube ao DNPM, enquanto que a CPRM, como empresa conveniada, tinha como responsabilidade viabilizar as atividades operacionais (contratação de pessoal, manutenção de equipamentos e veículos).

Entre estes merecem destaques os seguintes:

  • Projeto Anta Gorda – Pesquisa de Pb e Zn no Vale do Rio Ribeira SP/PN (1981 a 1983). Os trabalhos constituíram em levantamentos geológico-geoquímicos nas escalas de 1:50.000 e 1:25.000, geofísicos e de sondagens. Os estudos permitiram duplicar as reservas conhecidas de PB e Zn no Vale do Ribeira, nos Estados de São Paulo e Paraná.
  • Projeto Controle da Poluição em Atividades de Mineração de Belo Horizonte (1982 a 1983). O Projeto identificou poluição das águas, através de medições e monitoramento nos principais rios da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Com a conclusão dos estudos e a continuidade do monitoramento, as minerações foram despoluindo gradativamente as áreas, chegando ao estágio atual, graças às ações pioneiras do projeto.
  • Projeto Controle da Poluição em Atividade de Mineração e Pedreiras do Rio de Janeiro (1984 a 1985). Monitoramento das principais pedreiras próximo ao Rio de Janeiro, com medições de poeiras e ruídos. Atualmente a maioria das grandes pedreiras possui o próprio controle, graças aos treinamentos adquiridos através dos técnicos do referido projeto.
  • Projeto Palmeirópolis, Goiás (1986 a 1988). Foram executados mapeamentos geológicos de detalhe, geoquímica, geofísica e sondagens, que levaram a descoberta de uma nova área mineralizada, em sulfetos maciços, contribuindo para o aumento das reservas de Cu, Pb e Zn. Esta foi a primeira descoberta de sulfetos polimetálicos no Brasil.
  • Projeto Currais Novos, Rio Grande do Norte (1989 a 1991). Foi executado o mapeamento geológico e geoquímico regional de 5.910 km2, cobrindo os Estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba, com detalhamento de áreas selecionadas, compreendendo mapeamento geológico, geofísico, geoquímico detalhado e sondagens, chegando a um resultado muito promissor, com aumento das reservas de Au, entretanto, devido às circunstâncias daquele momento (preço do ouro / mercado) a empresa detentora da área abandonou o projeto, após lavrar ainda alguns anos após o término do projeto.
  • Projeto Centro de Estudos e Análises para Mercúrio para Amazônia Brasileira – CEAMA-Pará (1996 a 1998) Consistiu na implantação de três laboratórios (dois em Belém, Pará e um no CETEM, Rio de Janeiro), com treinamentos de técnicos brasileiros no Brasil e Japão, sobre métodos de amostragens no campo, análises laboratoriais, tratamentos estatísticos e interpretações de dados. Foram realizados estudos pelo laboratório de Minamata no Japão para que o CEAMA-PA fosse incluído no sistema de excelência de reconhecimento mundial.
  • Projeto Exploração Mineral na Área de Alta Floresta, Mato Grosso (1998 a 1999) Projeto de prospecção mineral, com mapeamento geológico, geofísica, geoquímica e sondagens, objetivando a prospecção de ouro. Foram cubadas cerca de seis (06) toneladas de ouro durante a execução do projeto, ficando a concessionária da área METAMAT/MT com a respectiva área para que fossem realizados estudos de detalhe.

Estados Unidos da América

As obrigações e atribuições determinadas pela lei (artigos 10, 19, 25 28 e, em especial, o parágrafo único do art. 38 e o art.44, todos do Código de Águas Minerais – Decreto-Lei no 7841, de 08 de agosto de 1945, que concluem que a existência de laboratórios oficiais é imprescindível à consecução dos objetivos do Estado, no campo das águas minerais), levaram o Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM a criar o seu Laboratório da Produção Mineral – LPM, com a função de laboratório oficial do governo.

Posteriormente, diante da (i) criação da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM, pelo Decreto-lei no 764, de 15 de agosto de 1969; e da (ii) extinção do Laboratório da Produção Mineral – LPM pelo Decreto no 67.583, de 16 de novembro de 1970, os laboratórios de Química e de Petrografia e Mineralogia do LPM, do DNPM, foram transferidos, em 1970, para a CPRM. E, a Portaria no 117, de 07 de julho de 1972, do DNPM, com base no pressuposto de que as atividades do LPM tinham características técnicas e fiscalizatórias, transferiu a obrigação originária do DNPM para a CPRM. Após dois anos, ou seja, em 1972, os laboratórios de Química e Petrografia e Mineralogia foram reunidos num único órgão, denominado Laboratório Central de Análises Minerais – LAMIN, visando à atender a demanda analítica dos projetos da CPRM, bem como ao atendimento externo. Em 1973, foi incorporado ao LAMIN o Laboratório de Bioestratigrafia. Em 1980, o Laboratório de Bacteriologia foi transferido da Superintendência Regional de Belo Horizonte para o LAMIN. Em 1996, o LAMIN passou a ser denominado Laboratório de Análises Minerais, integrado à Diretoria de Infraestrutura Geocientífica - DIG da CPRM.

Nesse processo de transferência das atividades analíticas do antigo LPM para a CPRM, foram incorporados equipamentos, bem como houve a transferência de vários experientes técnicos, não só do LPM como também de pesquisadores até então lotados na Divisão de Geologia e Mineralogia (DGM), do DNPM. Para atender à nova demanda analítica por parte dos projetos em execução pela CPRM, houve todo um “processo de adaptação na filosofia de trabalho”, tendo em vista que o LPM desenvolvia uma linha mais de pesquisa científica, ao invés do atendimento de rotina analítica que se iniciava com a CPRM, em função da alta demanda analítica de amostras de rochas, minerais e fósseis, que surgia proveniente dos mapeamentos geológicos sistemáticos em desenvolvimento em todo o território nacional.

Cabe registrar que a então demanda analítica, além do material geológico onshore originado dos projetos de mapeamento geológico, contemplava também parte das amostras proveniente da margem continental para atender as atividades offshore do Projeto Reconhecimento Global da Margem Continental Brasileira – Projeto REMAC, desenvolvido pelo DNPM, CPRM, Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN/ MM), CNPq e universidades brasileiras, sob a coordenação técnica e administrativa da Petrobras. Desenvolvido entre 1972 a 1979 o Projeto REMAC realizou 16 (dezesseis) expedições científicas (informalmente denominadas de LEG) distribuídas ao longo de toda a margem continental brasileira.

Naquela ocasião, para subsidiar a organização do LAMIN, e capacita-lo para atender a crescente demanda analítica onshore e offshore que se apresentava a CPRM contou com a efetiva colaboração do United States Geological Survey – USGS. Com base na cooperação técnica, através do convênio USAID/MME/DNPM, um amplo programa de capacitação de pessoal abrangendo diferentes técnicas analíticas, em diversos laboratórios do USGS, foi implantado. Nesse processo o USGS, através do complexo laboratorial de Denver, Colorado, teve papel relevante no treinamento de técnicos da CPRM envolvido com a demanda analítica para atender o mapeamento geológico onshore. Enquanto que os técnicos do Projeto REMAC receberam treinamento no Marine Geology Institute do USGS, localizado em Corpus Christi, Texas, além do Woods Holle Institute, Boston, Mass., USA.

O Programa de Capacitação Analítica CPRM-USGS, além de propiciar o treinamento de técnicos brasileiros - profissionais do então LPM e novos técnicos contratados pela CPRM, contemplou também a reformulação da estrutura organizacional do LAMIN, bem como a modernização dos equipamentos e instrumentais laboratoriais, de todos os seus setores. Na fase de instalação e operação dos aparelhos, bem como na implantação de métodos de pesquisa e calibração da instrumental, o USGS prestou permanente assistência técnica à CPRM com a visita de experientes profissionais americanos para o Brasil. Esta iniciativa, no início da criação da CPRM, propiciou condições de dotar a CPRM de uma moderna estrutura laboratorial e pessoal qualificado para atender estudos analíticos de material geológico onshore e offshore, além de análise de água, segundo padrões de acreditação laboratorial internacional.

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