Projeto Alto Ribeira

Projeto Alto Ribeira

Início: 07/2004; Término: 06/2006; Duração: 24 meses


Objetivo e Justificativas

Atualização da carta geológica da Folha Apiaí, organização das informações e disponibilização das mesmas em meio digital (SIG) e em papel.

A região do Alto Vale do Ribeira é uma área-chave para o entendimento da geologia, de importante segmento dos terrenos do sudeste paulista e nordeste paranaense, composto principalmente por metassedimentos de baixo e médio grau metamórfico (Grupo Açungui, formações Votuverava e Água Clara). Seu potencial metalogenético (chumbo, ouro, estanho, cobre, fluorita, barita, calcário, talco, filito e outros não metálicos), sua variedade litológica e complexidade estrutural fazem dessa região uma das áreas de maior demanda de estudos e definições de realidades geológicas, sendo também uma das regiões preferidas para treinamento de campo de estudantes de geologia.

Esse fato fez com a que a região fosse, de longa data, alvo de inúmeros trabalhos, com escalas e enfoques variados, mas que não foram disponibilizados ao público ou o foram de forma restrita ou inadequada. As únicas folhas impressas dessa região e, portanto, com uma relativa divulgação são da década de 1970, estando bastante desatualizadas. Esses trabalhos foram devidos à CPRM (Projeto Sudeste do Estado de São Paulo, em 1:250.000, 1974 e Leste do Paraná, em 1:100.000, 1977). Os últimos trabalhos da CPRM nessa região (pesquisas próprias) datam do final da década de 1980.

A evolução dos conceitos geológicos verificados nos últimos trinta anos, o aprimoramento de técnicas laboratoriais e o desenvolvimento de novas ferramentas de trabalho, notadamente na área computacional, apontam para a oportunidade de atualizar a cartografia geológica da referida folha, de forma a contribuir com a retomada dos investimentos em mineração, uma das bandeiras das administrações públicas locais para o desenvolvimento da região.


Localização e Acesso



Geologia Regional

A geologia do sul de São Paulo é composta por dois grandes compartimentos tectônicos do Proterozoico inferior e médio-superior, denominados Faixa Apiaí e Domínio Costeiro. Estão delimitados por uma zona de cisalhamento de expressão regional denominada Lancinha-Cubatão e alojam corpos graníticos do Proterozoico superior, além de complexos alcalinos e alcalinos ultramáficos do Mesozoico.

A Faixa Apiaí é formada por uma expressiva sequência de rochas supracrustais metamorfizadas na fácies xisto-verde, com orientação nordeste, classicamente denominada de Grupo Açungui (Marini et al. 1967); bem como por associações de rochas metavulcanossedimentares metamorfizadas em grau mais elevado, alcançando localmente condições compatíveis com a fusão parcial, como a Formação Água Clara (Marini et al. 1967), a Sequência Perau (Piekarz 1981) e o Complexo Embu (Hasui 1975; Hasui & Sadowski 1976). Essas associações metamórficas estão intrudidas por corpos granitoides cálcio-alcalinos e deformadas por um complexo arranjo de zonas de cisalhamento de alto ângulo, de movimentação direcional dextral que, segundo Silva et al. (1998), corta uma trama tectônica de baixo ângulo. São ainda problemáticas as relações estratigráficas entre as rochas incluídas no Grupo Açungui e as de grau metamórfico mais elevado, assim como as correlações estratigráficas regionais, proliferando assim denominações locais e correlações entre unidades estratigráficas distintas (ver Campanha 1991, Fassbinder 1996).

O Domínio Costeiro é limitado ao norte pela Zona de Cisalhamento Lancinha-Cubatão, de movimentação direcional dextral, e estende-se para sul até o litoral. Essa delimitação corresponde à de Bistrichi et al. (1981) para o Complexo Costeiro, que seria composto no estado de São Paulo por gnaisses indiferenciados, metamorfisados na fácies anfibolito, incluindo ainda granulitos e rochas supracrustais de baixo grau metamórfico, e é denominada “Sequência Cachoeira”, provável resto de greenstone belts arqueano (Silva et al. 1981; Batolla Jr. et al. 1981). Os granulitos são representados por núcleos charno-enderbíticos isolados, em associação com gnaisses kinzigíticos e ortognaisses, como o Maciço de Itatins (Sadowski 1974) e o Complexo Serra Negra (Silva et al. 1981). As rochas gnáissicas indiferenciadas receberam denominações diversas como Complexo Gnáissico-Migmatítico (Dantas et al. 1987), Complexo Pré-Setuva (Biondi 1983) e Complexo Atuba (Siga Jr. 1995; Silva et al. 1998). Para Dantas et al. (op. cit.), a unidade gnáissica sobrepõe-se à unidade granulítica e à Sequência Cachoeira. Ocorrem ainda nesse domínio coberturas metassedimentares metamorfizadas nas fácies xisto-verde e anfibolito.

A região apresenta elevado potencial metalogenético, sendo de conhecimento histórico as ocorrências de cobre, ouro, chumbo e prata associada. A região também encerra importantes reservas de calcário para cimento, fluorita e barita e possui elevado potencial para turismo ecológico (grutas calcárias e principal reserva de Mata Atlântica), sendo fundamental o pleno conhecimento de suas potencialidades para o manejo sustentável desses recursos.


Metodologia

  • Levantamento Bibliográfico.
  • Integração geológica: caracterização das grandes estruturas através da análise de imagens de sensores remotos e de radar e geração de mapas geológicos compilados (mapas de serviço) na escala 1:100.000.
  • Reconhecimento preliminar de campo (15 dias): elaboração de seções geológicas regionais visando à caracterização dos litotipos presentes na área e homogeneização de nomenclatura.
  • Cadastramento de recursos minerais – minas ativas (10 dias): tendo em vista a necessidade de agendamento das visitas junto às mineradoras locais, o trabalho será feito por equipe específica.
  • Etapa de campo (3 meses, 20 dias/mês): nas porções da folha onde não houver dados geológicos compatíveis com a escala do projeto será realizado mapeamento geológico na escala 1:100.000 e integração com os dados cartográficos pré-existentes (iniciado). Nessa fase serão esclarecidas relações litoestruturais, coletadas amostras para análises e cadastrados os recursos não explorados.
  • Estudos petrográficos: foram recuperadas cerca de 67 lâminas de projetos anteriores. Prevê-se ainda a necessidade de confecção de 45 lâminas para complementação do estudo.
  • Levantamento geoquímico (3 meses, 20 dias/mês): prevê-se a coleta de 180 amostras de sedimento de corrente e de concentrado de bateia. O trabalho será realizado por equipe específica.
  • Análises geoquímicas (3 meses): os sedimentos de corrente serão analisados para 30 elementos (determinações por ICP simultâneo - pacote da Geossol), além de As, Hg, Se e Te por AA com geração de hidreto.
  • Análises mineralógicas: 180 análises mineralógicas semiquantitativas das frações leve e pesada, para suporte ao mapeamento geológico.
  • Análises geocronológicas: em função das datações já disponíveis e das características litológicas da área prevê-se a realização de 2 determinações Pb/Pb e 2 Ar/Ar.
  • Integração e consolidação dos dados (3 meses): tabulação de dados e interpretação dos resultados analíticos. Montagem do mapa final.
  • Georeferenciamento: editoração dos mapas geológico-estrutural e de recursos minerais em meio digital.
  • GeoSGB: paralelamente à elaboração dos mapas geológicos será efetuada a alimentação do GeoSGB, de planilhas de recursos minerais e de estratigrafia.
  • Nota explicativa: elaborada de forma sucinta, deverá acompanhar as cartas geológicas em papel a serem lançadas como produtos intermediários.


Produto final: cartas geológica, geoquímica e de recursos minerais editoradas para edição em papel e em meio digital, associadas a banco de dados estruturado em SIG. Relatório final contendo levantamento bibliográfico, estudos prévios, mapas de caminhamento geológico, amostras coletadas, relação de amostras analisadas, tabulação de resultados analíticos, descrições petrográficas, análises e interpretações isotópicas (geocronologia), análise de dados estruturais, dados de economia mineral e outros tópicos relacionados ao tema compatíveis com a escala do trabalho.


Resultados Esperados

Ao final do projeto espera-se apresentar ao público não apenas um pacote de informações de interesse geológico mas também de interesses mais amplos, dentre os quais se incluem expansão urbana, preservação ambiental e implantação do geoecoturismo.

As cartas - geológica, geoquímica e de recursos minerais - deverão dar suporte à retomada dos investimentos em mineração na área, uma das bandeiras das administrações públicas locais para o desenvolvimento da região. As cartas geoquímicas deverão reforçar os trabalhos de caracterização geoambiental da região, ora em elaboração por instituições de natureza pública, ora em colaboração com entidades privadas (ONG’s).

Empresas de suporte aos serviços públicos - como manutenção de redes de distribuição elétrica, estradas, gasodutos (trecho do Gasoduto Brasil-Bolívia passa pela região) - irão se beneficiar com a disponibilização de cartas do substrato geológico mais atualizadas. Suporte às administrações públicas locais para definição de áreas mais adequadas à implantação de obras de infraestrutura, tais como áreas de empréstimo de material, áreas para captação de águas, disposição de rejeitos, construção de conjuntos habitacionais, dentre outras.

Finalmente, espera-se com esse trabalho iniciar a reavaliação da geologia e dos recursos minerais de uma das áreas mais complexas e importantes de nosso Estado sob o ponto de vista geoambiental e metalogenético.

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